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Conheça a Nina Veiga e como surgiram seus brinquedos Waldorf

Nina Veiga é educadora Waldorf, mestre em Cultura e Linguagem, psicopedagoga artística. Especialista em docência do ensino superior e trabalho com formação de professores, educação e apoio de pais. Seu atelier cria brinquedos inspirados no conhecimento antroposófico, levando em conta a imagem ampliada do homem e as necessidades da criança contemporânea. Procura valorizar o trabalho das mãos humanas em contato com concepções e materiais que possibilitem a sustentabilidade planetária.
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Eu era uma executiva da comunicação, havia trabalhado por muitos anos em emissoras de televisão, além de passagens por rádios, jornais e revistas e, naquela época, após o Plano Collor, estava trabalhando como consultora para grandes empresas do Sul do país. Foi quando fui para um spa diferente. Sem saber o que era, hospedei-me em Nazaré, um centro de vivências que, longe de ser um spa, era considerado um centro de luz, aonde as pessoas iam para conectarem-se com a própria alma. Saí de lá, uma semana depois, completamente mexida e a primeira coisa que senti foi uma coceira na mão. Tinha vontade de resgatar a pessoa que eu era antes de entrar no turbilhão da mídia: uma moça que escrevia, fazia artes e atividades físicas.

A “coceira das mãos” me levou a um armarinho e comprei tudo que gostei, sem saber o que ia fazer com aquilo. Cheguei em casa com as coisas e minha irmã falou “Por que não faz fadas?”, “Fadas?”, perguntei, “Sim, lá na livraria, todos me oferecem bruxas, mas eu gostaria que tivéssemos fadas”, respondeu subindo as escadas em direção ao quarto. Ela trabalhava em uma livraria esotérica famosa na Avenida Paulista, em São Paulo. Foi então que, sentada no tapete, criei a boneca número zero (foto abaixo).

A boneca número zero em 1991


Depois disso, minha irmã desceu as escadas, vinda do quarto, olhou para a número zero e falou: “Fadas têm que ter pernas looongas!”. Pouco tempo depois de ouvir essa palavra-chave, a número um nasceu. E, para minha surpresa, estava pronta. Parecia que eu havia encontrado um fluxo energético. A coceira n
as mãos de antes virou inspiração e produção. Em poucos dias eu havia feito várias fadas com retalhos de tecidos, brocados, tules. Após fazer uma inteiramente dourada, coloquei todas em uma caixa de presente e resolvi oferecer na Rua Oscar Freire, um ponto central do comércio sofisticado de São Paulo.

A boneca número 1 com os primeiros vinte dólares


Naquele tempo, eu tinha uma moto, prendi a caixa de presente no bagageiro e saí em direção aos Jardins. Na Oscar Freire, vi uma loja com fachada de casa de contos de fadas que me chamou atenção. Parei e resolvi pedir para falar com a dona e, por incrível que pareça, ela me atendeu. Enquanto esperava, entrei em contato com um outro universo: o incrível mundo das representações do plano espiritual. Bruxas, gnomos, elementais de toda a espécie, cristais, runas, tarô era moda na época. Uma salada mista de im
agens e significados na Além da Lenda (esse era o nome da loja onde eu estava). A dona, uma jovem bonita e forte, me atendeu, escutou a minha estranha história sobre “coceira nas mãos”, viu as fadas e, enquanto me ouvia, ficou com a fada dourada nas mãos.

Quando terminei de falar, perguntou quanto era, eu sem saber, disse vinte dólares, uma pequena fortuna na época para o preço de uma boneca de trinta centímetros, algo como 150 reais hoje. Ela falou “Vou ficar com essa, te pago agora e quero mais vinte e oito”. Fiquei um pouco paralisada, muito paralisada. Agradeci e nem me atrevi a perguntar por que vinte e oito. Seria algum número especial? Estou sem saber até hoje.

Voltei para a casa, contei o que havia acontecido, minha irmã foi até a estante, pegou uma Revista Veja e me mostrou a loja onde eu havia estado: na revista, uma matéria de destaque informava sobre o boom da Além da Lenda. Foi assim, em um movimento tipo sonho-sorte que o Nina Veiga Atelier começou.

No entanto, quando comecei a fazer bonecas, elas não estavam diretamente vinculadas às crianças. Eram bonecas decorativas, relacionadas ao universo esotérico. A Fada-madrinha era uma boneca que estimulava nossa visualização criativa. A Yogue, trabalhava as virtudes, de acordo com a tradição do Brahma Kumaris. A Tecelã, trazia a crença de que acontece o que a gente tece. O cupido despertava a lembrança do amor universal. Nenhuma das bonecas era feita para o brincar infantil. Eu era uma tecelã que fazia bonecas para presentear adultos, na intenção de fazê-los lembrar de seu lado espiritual, através da representação que a boneca trazia.

A pastora simboliza nosso lado poético e sonhador. Criação de 2010. As decorativas ainda ocupam grande espaço em nossa produção atual


Fo
i quando fomos convidados para fundar uma escola rural em Nazaré Paulista. O grupo de seis casais ligados ao Centro de Vivências de Nazaré se reuniu em um sítio para planejar a escola. Estudamos várias linhas pedagógicas e decidimos pela Pedagogia Waldorf. Eu não conhecia nada do assunto, foi em 1992, mas seria a professora de artes da escola. Então comecei a estudar e, então, descobri o universo do brinquedo Waldorf.


A primeira boneca Waldorf em 1992


Comecei a pesquisar e tentei fazer a primeira boneca. Ela era frágil, com pernas e pés de pouca tonicidade. Lutei durante muito tempo sozinha até conseguir fazer uma boneca “encarnada”, que fosse saudável para a criança e que representasse um ser humano terreno, forte, equilibrado e que deixasse transparecer sua “alma”. Essa conquista, essa busca pela força encarnatória, pela intensidade da vida é que tento passar para minhas alunas nas oficinas da boneca Waldorf.


Oficinas das nossas bonecas


A criança ao brincar com uma boneca inspirada na Educação Waldorf deve encontrar humanidade, aconchego, proporções saudáveis, espaço para que sua imaginação possa transformá-la. O rosto, de feições apenas sugeridas, possibilita que a criança permeie com fantasia as expressões e, dessa forma, faça a boneca ficar alegre ou triste de acordo com suas próprias emoções refletidas.

A boneca Waldorf hoje


A boneca é feita com materiais vivos, lã de carneiro e algodão para o enchimento, pele, cabelos e roupas. A simplicidade das formas orgânicas são um convite ao abraço, ao ficar junto, ao carinho, qualidades importantes para a formação emocional da criança.

Hoje, o Nina Veiga Atelier está em uma nova fase e em breve teremos a nossa boneca em transição para a sustentabilidade, feita com materiais naturais certificados ou rastreados, permitindo aos consumidores conhecer as pessoas que fizeram a boneca e a origem de todos os materiais envolvidos em sua produção.

O devir: boneca feita com materiais orgânicos rastreados e certificados em transição para a sustentabilidade

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