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Entrevista com Carolina Rodrigues


Entrevistamos Maria Carolina Rodrigues e Rodrigues, da loja Meu Pintinho Coloridinho. Carola é apaixonada por gatos e crochê, e sua produção é composta por bolsas, bonecos, broches, cachecóis, colares e pulseiras, entre outras coisas lindas criadas por suas habilidosas mãos e agulhas.

Como tudo começou?

Aprendi crochê com minha avó mas não dava muita bola. E com uns 10 anos meu pai me pôs em aulas de corte e costura e tricô, coisas que eu odiava ter que aprender. Mas artesanato sempre foi algo valorizado em casa (minha bisavó era uma grande crocheteira, assim como minha avó era excelente costureira) e eu nunca menosprezei nada, apenas não queria aprender.

Minha paixão começou mesmo na faculdade de Administração, quando comecei a buscar coisas bacanas para serem importadas e comercializadas, coisas que eu nunca encontraria por aqui, com facilidade. Comecei a notar que aquilo tudo era o que eu havia aprendido mas nunca tive no que usar.

Hoje vejo que essa birra toda se deu muito por causa da dureza e falta de flexibilidade da maneira de ensinar na época e a utilidade fim do produto, sempre coisas enormes e totalmente desinteressantes para uma adolescente.

Além de artesã, você exerce outra profissão?

Sou crocheteira full-time, ou seja, dedicação integral, além de exercer o papel de dona de casa. Aqui vale um parenteses: a pior dona de casa do mundo!!! O crochê é meu trabalho, meu meio de subsistência onde encontro profundo prazer.

Quais são suas habilidades e especialidades?
Sou boa crocheteira e sempre fui muito criativa. Minha costura não é lá muito boa mas quebra um galho, como é o caso dos broches de feltro. Curto muito fazer amigurumis, bonecos “bonitinhos” em crochê tubular e acessórios pessoais e acredito que, ainda que eu precise aprender muito ainda, estou bem escolada nessas áreas. Em breve, quando tiver alguém me ajudando, vou me aventurar nos acessórios de casa. Vamos ver no que vai dar…

Que tipo de trabalho artesanal lhe proporciona mais prazer?

Crochê, claro! :)

Quais materiais e equipamentos você costuma utilizar?

Gosto muito de trabalhar com linhas de algodão pois elas tem um caimento perfeito para o que eu faço. Comecei agora a trabalhar com outras marcas, algumas acrílicas, mais fashionistas e pretendo em breve experimentar a lã pura. Mas não para esse inverno. Gosto de brincar também com o feltro e ver o que ele pode oferecer de formas. Mas o feltro nacional é tão, mas tão ruim que limita muito a quantidade de objetos, além da longevidade dele. Meu equipamento principal são minhas agulhas importadas, feitas para quem tem artrite, com pega melhor do que as regulares. Também tem ponta em inox, ao invés de alumínio, que eu acredito ser um material muito superior, também dificilmente “comprável” por aqui. De resto, minha máquina de costura Singer herdada de vovó, a Elgin, com pontos mais bonitos, milhões de tesouras, alicates, agulhas de costura…

Onde você busca inspiração?

Já olhou em volta para ver o que nos cerca? Mesmo em cidades “cinzentas e poluídas”? Tá tudo aí, esperando ser olhado, apreciado e principalmente, inspirar pessoas.
Outro dia vi um trabalho gringo que nem sei se teve essa idéia por trás, mas que me bateu “amor-perfeito” na hora! Roxo, amarelo, preto, azulão… Eu mesma tenho um cachecol cujas cores são as do outono, baseado quando morei fora e pude acompanhar o que é a passagem real de estações. Gente, as folhas realmente ficam laranja, vermelha, amarelo, cada uma num tom…

Onde você busca conhecimentos?

Livros. E internet também, que quebra um senhor galho. Não faço cursos de artesanato, geralmente, porque estão muito aquém do que procuro. Mostram o que eu já vi várias vezes e/ou que não me dão tesão de fazer. No segundo semestre devo fazer um curso técnico de desing (quatro semestres) e de harmonização de cores (meses) para ficar mais profissional do que estou no momento.

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho.

Eu geralmente trabalho sozinha, no sofá daqui de casa, com a TV ligada para fazer companhia, e um quilo de linhas, agulhas, receitas, cadernos de receitas, e tudo o mais que eu posso ter por perto, espalhados em volta de mim. Parece caótico mas funciona super bem para mim. Não faço sketchs, muito raramente faço desenhos, eu bolo e vou anotando o que fiz num caderno de esboços. Se no final eu achar que valeu, vira um produto. Se achei horrendo, vai pro lixo. A maioria das coisas fica no limbo, até eu melhorar o que achei que deu errado.

Você tem um atelier ou compartilha espaços da casa para suas criações?

Meu atelier é um quarto da casa, onde guardo tudo e raramente onde trabalho porque meu computador, a TV, os sofás, está tudo na sala! Mas eu já fui trabalhar até em cafés, em calçadões, na Savassi aqui em Belo Horizonte. Eu saio, ando uns 15 minutos até lá, sento e passo a tarde crochetando e tomando chá gelado, uma das minhas paixões.

Como você descreve seu atelier ou seu cantinho de criações? Se alguém visitá-la, o que encontrará lá?

Uma zona!? Como eu já descrevi sou caótica e as coisas só fazem sentido para mim. Mas lá vão encontrar uma bicama (esqueci de dizer que também é quarto de visitas), um armário embutido recheado de matéria-prima e insumos, uma estante de aço recheada de livros de Administração, Terceiro Setor, Economia Solidária, Comércio Exterior e Markenting, áreas da minha formação que mais me atrairam, além dos meus de artesanato, uma cadeira antiga de xerife reformada, uma escrivainha com as duas máquinas de costura e dois porta-trecos com tudo o que se pode imaginar.

Você dá cursos?

Pretendo dar cursos para crianças e pré-adolescentes interessados e para adultos. Mas nada de paninhos, biquinhos, coisas gigantescas! Quero que as pessoas se expressem pelo crochê, que façam árvores, bouquets, formas geométricas… Mas isso vai ter que esperar um pouco para que eu me estruture. Alguma cobaia lendo aqui? Rs

Você escreve tutoriais e artigos “como fazer” sobre artesanato?

Escrevo alguma coisa mas não sei se as pessoas têm paciência para ler. Meu blog tem tido uma boa audiência e algum retorno da audiência. Tá até aqui nos links do Elo7!

Você trabalha sozinha?

Trabalho sozinha mas pretendo deixar de ser uma empresa de uma mulher só, tendo pelo menos duas pessoas me auxiliando para que eu possa me dedicar à criação e divulgação melhor. Não posso deixar de citar meu office boy de luxo, meu namorado que me dá um super-hiper-mega apoio. Só não quis aprender crochê. AINDA!

Quais características você considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

Coisas diferentes. Não gosto de fazer o reme-reme, do jeitinho reme-reme, com cores reme-reme… e tento fugir disso ao máximo. Na minha opinião não adianta fazer o comum porque não me adiciona; e para não me adicionar prefiro trabalhar como despachante aduaneira, seguindo regras que alguém fez para mim. Acho que estou conseguindo minha meta, aos poucos. Criatividade em primeiro lugar e acima de tudo! Logo atrás o acabamento.

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão?

O grande desafio para mim é “também faço crochê” ou “nossa, minha mãe fez igualzinho”. Isso me mata de raiva porque sempre vem num tom de desdém, de depreciação do que está na frente da pessoa. Acho que todo mundo que faz artesanato é “obrigada” a ouvir isso. Também acho que as próprias artesãs não valorizam seu trabalho ou sua criatividade. No primeiro caso pondo preços que não pagam o trabalho real que ela teve naquilo. No segundo caso não confiando em seu tino e copiando tutoriais e outras coisas ao pé da letra, sem adicionar nada ali. Para quem quiser viver de artesanato isso não pode!

 

Como você vê o panorama do artesanato no Brasil de hoje? 

Não somos muito valorizados como artesãos mas já temos nichos de apreciação, que passam longe do público que acha que falsificação e pirataria é legal. É algo feito pelo olhar particular de alguém, pela sensibilidade daquela pessoa, que é única. Acho sim que o trabalho artesanal pode promover ascenção social em classes mais baixas, desde que ligadas às associçãoes ou cooperativas, que ensinam a pessoa a valorizar o que ela está fazendo, além de ensinar a comercializar, criar, etc. Eu acredito que, no momento, muitas pessoas têm feito por necessidade e não por prazer. O estado econômico do nosso país não permite ainda, para a maioria esmagadora das pessoas, escolher o que quer fazer e quando. Acredito que o grande boom vai se dar quando pessoas que querem fazer isso como meio de vida realmente, entrarem e enriquecerem o mercado.

É possível viver exclusivamente do artesanato?

Claro! Estou vivendo isso e disso! Estamos vivendo uma década de valorização do que é feito manualmente, talvez por um pouco de aversão a esse excesso de automatização, industrialização, e isso é bárbaro para quem quer fazer coisas individualizadas, como nós, artesões. O grande desafio, como comentei antes, é sair do reme-reme, do meio comum, descobrir o nicho com o qual você quer trabalhar e (tentar ao menos) ser bom nisso, ser referência entre os iguais.

Que dicas você daria a quem quer começar?

Eu recomendo que a pessoa pense direitinho, se acha que pode superar o que tem por aí, se tem amor àquilo ou se está apenas fugindo desse mercado de trabalho horrendo que nós temos hoje, cheio de exigências e com poucos benefícios. Que descubra o que faz bem e invista em workshops, não cursos. Que pesquise muito na internet, que teste com aquele amigo(a) exigente coisas que fez para saber se é realmente bom. Não faça consignação, leia muito, aprenda inglês ou espanhol ou francês ou … ou todas essas porque a grande fonte de informação, infelizmente, tá lá fora. Não é fácil ser autônomo, não há salário, não há plano de saúde e se você adoecer a produção pára.

Que atributos definem um bom artesão?

Criatividade, repito. Com criatividade se vai à Lua! Mas mantenha os pés no chão porque ter sua própria empresa não é e nem nunca foi fácil.

Como você divulga seu trabalho?

Divulgo pelo Orkut, pelo blog, Flickr, amigos e parentes. Mas não vou dar pitaco aqui porque sou muito fraca nisso. Vendo pela internet apenas, por enquanto. Eu não sou uma pessoa que se dá bem pessoalmente com outras pessoas, tenho gênio ruim (adendo: não sou pessoa horrorosa, bruxa, com verruga no nariz! Só tenho gênio forte). Então, para mim, a internet foi uma maneira de driblar isso. Além do mais ela não tem restrições geográficas.

Algum hobby?

A-DO-RO quebra-cabeças! Ando parada nisso mas quero voltar. Tenho dois lacrados, de 500 peças. Também adoro uma marca de câmeras nada profisionais chamada Lomo. Tenho duas. Mas minhas fotos são tão fracas… Quase nada salva. Gosto de viajar pro exterior, para passar um tempo longo em um canto (já consegui fazer duas vezes), gosto muito de ir no cinema, mais do que de filmes em si, de comer bem e de um bom papo. Ah, sim, quem inventar aqui a cama que se faça sozinha e a louça que se lave sozinha me avise! Rs.

Fale um pouco sobre você.

Eu não consigo viver sem expectativa de saber que o amanhã será melhor, mais rico, mais engraçado, divertido. Sem esperança nada vai pra frente. Tenho dois filhos gatos, uma sobrinha gata e uma filha a caminho: John-John (ou bombom) e Fritz, Bunny e ainda sem rosto ou nome. Amo gatos, desde que me lembro, e acho que isso pode ser sentido no que faço, no que posto e na minha seleção de amigos. Não propositalmente, acho que só uns 5 não tem gatos em casa. Sempre tive gana de aprender as coisas. Quando mais nova, de tudo, qualquer informação era válida. Agora tenho mais filtros mas ainda assim, aprender coisas continua sendo delicioso! Agora, se eu puder adicionar uma coisa, é isso: aproveito para fazer um apelo aqui aos fornecedores e armarinhos, que não estão acompanhando essa pequena revolução de consumo: melhorem as linhas e lãs! Melhorem a padronagem dos tecidos, diversifiquem-nas! Melhorem os feltros! O material para fazer bijouxs! Atendam-nos como merecemos! Reformem as lojas!
Modernizem-se!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Para saber mais sobre o trabalho de Carola:

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