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Entrevista com Cris Mathias da Cris Mathias Joias e Bijús – Niterói/RJ

Cris, conte-nos um pouco como tudo começou. Como surgiu a Cris Mathias Joias e Bijús? Fale um pouco sobre você e seu trabalho.

No início da década de 80 me formei em Comunicação Visual na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Eu já frequentava desde os 16 anos a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (E.A.V.), que é uma Escola de Arte Contemporânea com características informais, muito identificada com o Rio de Janeiro, cidade onde as pessoas se vestem mais à vontade, tem o sol, as cores, o mar e as montanhas aguçando todos os nossos sentidos. Na E.A.V. o aluno frequenta as oficinas e cursos teóricos, participa de exposições e fica em contato com artistas atuantes, do Rio e de outros países. Pois foi neste ambiente livre e rico que me formei na prática aprendendo a utilizar tintas e outros materiais de trabalho e intelectualmente através das discussões, palestras e estudos da História da Arte.

Quando saí da faculdade fui trabalhar no atelier da artista Katie Van Scherpenberg. Ali aprendi tudo sobre o funcionamento dos materiais, suas particularidades e limites. Aprendi a raciocinar com os resultados e com as técnicas.

Considero que esta é uma das noções principais que um artesão deve ter: raciocinar com seu material de trabalho! Comecei a dar aulas no atelier que na época eu dividia com mais 5 artistas, entre elas a ceramista Taciana Amorim com a qual fiz uma longa e proveitosa parceria- e ali comecei minha vida de artista na prática! Um aluno vitrinista me chamou para trabalhar com ele executando suas idéias para vitrines de lojas e multimarcas famosas aqui no Rio e em outras cidades do Brasil. Foi quando me aproximei do universo da moda.

No atelier, além das aulas, eu produzia objetos para decoração e restaurava móveis e ambientes. Nesta época comecei a criar bijuterias utilizando como matéria-prima a borracha. Essas peças eram muito bem aceitas pelo público que frequentava o atelier. Em 1994, viajei por três meses para a Alemanha, Portugal e Espanha. Meu foco na Europa eram as lojas e exposições de joias e bijuterias. Em Barcelona decidi me dedicar a esta atividade depois de pesquisar e ver coisas incríveis por lá! Em 2001 entrei para uma oficina de joalheria em Niterói com o objetivo de aprimorar e ampliar meus conhecimentos. Mudei para Niterói e promovi mudanças significativas na minha vida para poder mergulhar de cabeça nesse projeto. Comecei fazendo algumas coleções para lojas e atualmente me dedico integralmente a este trabalho.

Cuidar da Cris Mathias Joias e Bijús hoje é sua principal atividade profissional ou você exerce alguma outra profissão em paralelo?

Dedico-me inteiramente à Cris Mathias Joias e Bijús. Esta dedicação requer muito trabalho, muita disciplina, muita paciência e também muita garra!


Conte-nos sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que faz. Quais os tipos de produtos, as principais características e diferenciais de cada um, as matérias-primas, os materiais e equipamentos utilizados.

Meu fascínio pelas possibilidades de cada material é na verdade a mola do meu trabalho. Primeiro vem a ideia, o desenho que se faz na minha cabeça e depois o desenho à mão livre no papel. Depois penso no material que vai combinar com aquele projeto. No meu atelier em Niterói me cerquei de equipamentos que pudessem atender esta minha curiosidade em relação aos materiais: máquinas de costura e overloque, um pequeno forno para queima de peças de porcelana e vidro, equipamento para joalheria, materiais de pintura, serras para madeira e muitas gavetinhas com milhares de bolinhas e apetrechos para montagem do meu trabalho. Trabalho com acrílico, porcelana, prata e outros metais, tecidos diversos, vidro, madeira e até o papel. Enfim, tudo que pode ser transformado em joia ou bijuteria. Tudo que possa gerar um novo conceito. Bom, por fim, o que não pode faltar no meu atelier é também o computador, o scanner e a máquina fotográfica. Além do desenho à mão livre, aprendi a utilizar as ferramentas do computador para ajudar no meu trabalho e hoje eles são indispensáveis!

Você trabalha sozinha ou tem uma equipe? Você tem um atelier ou compartilha espaços de casa para suas criações?

Trabalho sozinha. Todo o processo passa pelas minha mãos e eu adoro isso! Meu atelier fica na minha casa e é onde divido minha vida com meu filho e meu marido. Desde jovem adorei ter o atelier em casa ou muito perto de casa. O atelier é uma extensão da casa. Enquanto espero um material secar ou descansar ponho um feijão no fogo ou remendo uma meia! Este u
niverso feminino é o caldeirão onde faço minha alquimia. Escuto música e me cerco de objetos queridos que fazem parte do meu ritual de criação. Em algumas situações eu terceirizo o trabalho: para fundição de uma peça em prata, por exemplo, tenho um atelier em São Paulo que as faz para mim. Para uma silhueta de acrílico tenho aqui em Niterói um rapaz que faz isso para mim. O acabamento é todo feito aqui no atelier. As embalagens também são terceirizadas ou feitas aqui na máquina de costura dependendo do conceito da coleção.

Que características considera diferenciais nos seus produtos? Quais são suas principais qualidades como artesã?

A criatividade. Eu me sinto uma fonte jorrando! E o fascinante para mim é a força da peça única! Esta peça encerra em si todo o esforço e dedicação necessários para que ela seja autêntica. A verdade é outra característica. Posso me apropriar de um tema, fazer releituras, porém, o resultado sempre vai ser consequência do meu olhar.
A outra qualidade é este raciocínio com o material, poder pensar que as coisas podem ser feitas de inúmeras maneiras e com diversos acabamentos e terem sempre qualidade e inventividade.
A última característica eu acho que é a excitação e a alegria de fazer o que eu mais gosto!

O que você considera um produto artesanal com qualidade? Quando analisa um produto de um terceiro, o que considera como essenciais para que o produto seja vendável e agrade aos clientes?

Para mim é a criatividade. Além de produzir eu coleciono artesanato e quando compro algo sempre o motivo é o quanto aquela peça tocou meu coração e o quanto me surpreendeu pela invenção. Há artistas que pegam uma simples caixinha de fósforo e a transformam em um objeto incrível! Para mim, o olhar que o artesão tem para o seu material de trabalho é tudo! É a partir deste olhar que ele vai transformar seu material e também sua existência.

O que você acha do mercado de produtos feitos à mão no Brasil? Quais as perspectivas, desafios e dificuldades de se atuar nesse mercado hoje?

A dificuldade em primeiro lugar está na educação. Normalmente o público quer o fácil. Quanto menos trabalho para pensar ou fazer melhor! A indústria produz uma infinidade de quinquilharias inúteis para serem consumidas e descartadas visando este público. Porém, quem gosta de artesanato e de produtos feitos à mão já tem um olhar diferente, um olhar mais abrangente e generoso. O que percebo é que quem produz artesanato é também parte deste público que consome e aprecia.
Acho que a internet neste momento está abrindo um espaço maravilhoso para o artesão. Pelo que posso perceber, tem muita gente fazendo trabalhos maravilhosos e o Brasil tem no seu imaginário popular este histórico e tradição. Quem não se lembra da avó, da tia, ou outro alguém por perto numa máquina de costura ou com um bordado na mão? Faz parte da nossa cultura e somos maravilhosos nessa habilidade. A internet ampliou estas perpectivas criando outros locais de divulgação e visibilidade para o artesanato.

Qual o diferencial e valor que o artesanato pode agregar?

O de ser único e por ser único encerrar em si mesmo uma história que jamais vai se repetir da mesma maneira. O de ter a potência e a inteligência laboriosa das mãos. Um outro valor é a história do trabalho do artesão e o conhecimento técnico adquirido a cabo de longos anos. O artesanato traz também uma outra relação entre o homem e o tempo, relação esta que deve ser cada dia mais valorizada!

Onde e como você costuma vender e divulgar seu trabalho? Você utiliza que técnicas de venda e de divulgação?

Vendo meu trabalho utilizando a velha técnica do boca-a-boca. Clientes que vão divulgando e trazendo mais clientes. Também vou ao local de trabalho de algumas clientes minhas, outras, vem ao meu atelier. Participo de feiras e exposições. Na internet através dos sites: Elo7 (www.elo7.com.br), Atitude Artesanal (www.atitudeartesanal.com) e do Artesanum (www.artesanum.com). Tem também os estandes do NetBazar (https://netbazar.com.br) e do ArteDaqui (https://artedaqui.com.br).


Você conhece algum lugar que pode ser considerado o lugar indispensável para quem faz artesanato? Um site, uma feira, uma cidade, uma loja etc.?

Tenho uma simpatia enorme pelo comércio pela internet. Para os artesãos é uma maneira do seu trabalho chegar e ser visto em qualquer lugar do mundo! A internet faz as distâncias desaparecerem! Cada cidade tem sua característica particular. Acho que o artesão deve estar de olhos abertos e investir onde seu público está. Às vezes uma determinada cidade é péssima para mim e excelente para um outro artesão. É preciso trabalhar intensamente para achar o seu lugar pois todo artista tem seu público, com certeza! O site do Elo7 é maravilhoso. Nele encontro sempre novas portas se abrindo e também muita informação importante para o artesão.

Você tem algum hobby que gostaria de citar? Além de seu trabalho na Cris Mathias Joias e Bijus, o que mais você gosta de fazer?

Gosto de andar de bicicleta, d
e ver bons filmes, encontrar os amigos, estar com minha família, ler, ver exposições interessantes, viajar e principalmente investir no meu crescimento pessoal. Viver harmonicamente no meu ambiente e interagir com a cidade onde vivo. Tudo é parte de uma coisa só e que está ligado às escolhas que fiz para viver. Produzir artesanato é uma maneira muito especial de se viver.


Para fechar, se você tivesse alguns minutos para contar tudo sobre sua vida e seu trabalho, o que você diria?

Eu diria que sou uma pessoa feliz. Que é maravilhoso trabalhar naquilo que a gente ama de paixão! Isto minimiza as dificuldades e nos fortalece. Eu diria que antes de qualquer coisa é preciso acreditar muito nas escolhas que fazemos, ter alegria e fé e, muita, muita força e coragem para seguir porque o caminho é sempre para frente e quanto mais caminhamos mais mercadorias colocamos no carrinho: novas experiências, novos amigos, novos pensamentos, novas dúvidas e novos sonhos!

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