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Entrevista com Fernanda Sendra

Hoje o Elo7 entrevistou a designer gráfica Fernanda Sendra. Além de designer, Fernanda é arte-educadora e artista plástica. Seu trabalho principal é composto por blocos, cadernos, álbuns, convites e caixas. Observar seu trabalho é perceber como um único formato de produto possibilita tantos resultados diferentes, apenas com o uso da criatividade na maneira de empregar os materiais.

Fernanda, conte-nos como tudo começou.

Sempre gostei de atividades manuais, mas a paixão pelos “livros artesanais” surgiu na faculdade de design. Mesmo sem perceber acabava me preocupando com as capas e maneiras de apresentar meus trabalhos, sempre dava um jeito de finalizar o conteúdo antes do prazo para dar tempo de fazer as capas e encadernações que criava. Já próximo de me formar, entrei para a disciplina eletiva de encadernação e acabei descobrindo as possibilidades e encantos desta área do design, desconhecida por muitos.

Além de artesã, você exerce outra profissão?

Sim, sou Designer Gráfica, Arte-educadora e Artista Plástica. Muitos me perguntam como eu consigo trabalhar em tantas áreas diferentes. Mas a resposta para esta questão é simples: não exerço profissões totalmente distintas, muito pelo contrário, são super complementares, os públicos é que são diferentes. A criatividade não surge do nada, ela só aparece para aqueles que sabem observar e ver o mundo como um todo, e nada melhor para a criatividade do que lidar com pessoas, lugares e atividades diferentes o tempo todo. Por isso acredito que exercer tais profissões só ajuda no desenvolvimento do meu trabalho, agregando valores e qualidade.

Artesanato é hobby ou algo mais?

Meus “livros” não são minha única fonte de renda, mas posso dizer que estão se tornando a principal, e cada dia mais. Confesso que estou achando ótimo, pois amo o que faço. Em muitos momentos torna-se uma atividade cansativa como todas as outras profissões, pois exige muita concentração, esforço e disciplina. Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante ver o trabalho pronto e o contentamento do cliente.


Quais são suas habilidades e especialidades?

Minha especialidade é lidar com o design artístico e artesanal como um todo. Além da costura em papel, arrisco na fotografia, num bom desenho e numa boa pintura que utilizo nos meus projetos gráficos, nas minhas aulas de artes e nas minhas animações tradicionais. O design agrega pesquisa e valores aos produtos, proporcionando o diferencial que os torna únicos.

Que tipo de trabalho artesanal lhe proporciona mais prazer?

Sem dúvida meus álbuns. Amo fazê-los, vê-los prontos e saber que servirão para eternizar memórias e bons momentos.


Quais materiais e equipamentos você costuma utilizar?

Materiais – papéis Acid Free sempre, tecidos (diversos tipos), papelão, linha encerada, couro, fitas de todos os tipos, cola, elásticos, botões etc.

Equipamentos – prensa, guilhotina, Awl, dobradeiras, vincador, agulhas, rolos, pincéis, estilete, réguas , eventualmente máquina de costura etc.

Onde você busca inspiração?

No meu dia-a-dia, nas pessoas, na moda, em tudo praticamente. Adoro observar o mundo. Observar é um exercício que ajuda a desenvolver a criatividade e por isso procuro praticá-lo sempre. Sou uma estudante compulsiva… estou sempre buscando aprender alguma coisa nova. Quando não desmonto para aprender a reconstruir.

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que você faz.

Todos os meus projetos exigem muita concentração, dedicação e disciplina, pois são realizados sempre em etapas. É um trabalho minucioso que leva tempo e demanda paciência. Entre os produtos estão blocos, cadernos, álbuns, convites, caixas etc. Mas o interessante é que são todos únicos. Gosto de explorar as possibilidades dos materiais e adoro trabalhar com o fato de que um “formato” de produto possibilita tantos resultados diferentes, apenas com o uso da criatividade na maneira de empregar os materiais. Normalmente costumo vender meus produtos como presentes personalizados ou para quem valoriza o trabalho artesanal de qualidade e exclusivo, além de trabalhar bastante para eventos e empresas que buscam oferecer algo diferente e exclusivo para seus convidados e clientes.

Você tem um atelier ou compartilha espaços da casa para suas criações?

Tenho um cômodo da casa que transformei em atelier, e outro que chamo de extensão, onde fica a mesa de criação, corte e montagem. São nestes espaços que executo todas as etapas, de todos os projetos. Descreveria como a melhor relação espaço x quantidade de coisas maravilhosas :). Até hoje me pergunto como pode caber tanta coisa… O espaço é pequeno, mas guarda praticamente todas as melhores coisas da minha vida. Tem fotos das pessoas que amo; tem todas as minhas ferramentas de trabalho, desde o computador até minhas linhas, agulhas e lápis de cor; tem sofá para descansar e receber clientes; tem meus livros que me ensinam coisas novas todos os dias; tem minha humilde coleção de revistas de design e miniaturas de carros (sou fanática); tem materiais de trabalho tais como papéis de todos os tipos, tecidos; além dos produtos em processo e prontos… Nossa, são tantas coisas que podem ser encontradas, que passaria horas e horas relatando aqui.

Você dá cursos?

Dou aulas para os interessados sim. O curso está dividido em 3 módulos: Encadernação básica, Encadernação avançada e Cartonagem (caixas). Cada módulo possui sua parte teórica sobre o material e técnica e outra parte totalmente prática. Divido desta maneira porque o principal segredo para o resultado positivo e de qualidade na área em que atuo, está no profundo conhecimento do material e ferramentas utilizadas. Sem este conhecimento dificilmente o resultado final prático será de qualidade ou terá sua finalidade cumprida durante longo tempo.

 

Você escreve tutoriais e artigos “como fazer” sobre artesanato?

Não, mas não por falta de vontade, mas por ser realmente difícil passar algumas coisas fundamentais através de tutoriais, tais como a trabalhar da maneira correta com a fibra do papel e do tecido, ou demonstrar a consistência ideal da cola. Mas já estou trabalhando para montar algo do gênero.

Você trabalha sozinha ou tem uma equipe?

Trabalho sozinha, em todas as fases do projeto. Tenho amigos artesãos sim, mas em outras áreas. Na minha área tenho uma amiga, já até fizemos parcerias em trabalhos e feiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

Quais características você considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

Qualidade de acabamento e harmonia nas cores e materiais. Faço questão que o acabamento esteja impecável. Não entrego ou vendo nenhum produto que não esteja perfeito. Todos passam por teste de qualidade aos olhos de pessoas super críticas que me ajudam nesta fase. O olhar de uma pessoa que não está totalmente envolvida em todas as fases do projeto é importantíssimo para identificar possíveis falhas, pois não estão “viciados” como os olhos de quem está o tempo todo envolvido. Por isso, sempre faço o teste.

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão?
Lidar com a cultura industrializada e o preconceito com relação ao produto artesanal. As pessoas não compreendem o valor real do produto artesanal. Não se pode comparar produtos artesanais com produtos industriais, são totalmente diferentes desde a forma de concepção e fabricação, até sua finalidade, e acredito que a maior dificuldade seja exatamente fazer as pessoas compreenderem isso.

Como você vê o panorama do artesanato no Brasil de hoje?

Acho que há espaço e cabe a nós artesãos lutar por ele. O produto artesanal é único e esta exclusividade e especificidade é seu maior diferencial e valor. O produto artesanal pode fazer aquilo que nenhum produto industrializado pode, se “moldar” às necessidades do cliente, ser personalizado. Se analisarmos a história veremos que em diversas fases do desenvolvimento da indústria, o produto artesanal aparece como “derrubado” pelo desenvolvimento. Mas se isso fosse realmente verdade, não teria sentido o que tantas pesquisas no setor apontam, pois a cada dia maior é o numero de pessoas que vivem do artesanato, e se formos pesquisar veremos que isso não acontece só no Brasil. Eu arrisco dizer até que esse desenvolvimento da indústria que barateia o produto e torna tudo igual, só tende a agregar mais valor ao produto artesanal.


Você vê perspectivas boas para o mercado de produtos feitos à mão no nosso país?
Vejo sim, mas para isso nós artesãos temos que lutar, não podemos nos deixar abalar, muito menos deixar de cobrar por nossos produtos o valor que eles realmente valem. Temos que ser os primeiros a valorizar nossos produtos, só assim as pessoas passarão a valorizá-lo.

Você acha que é possível mesmo viver exclusivamente do artesanato? Quais os desafios e oportunidades?

Acredito que sim. Não é uma tarefa fácil, mas para isso, assim como todo negócio, é necessário investimento, dedicação, disciplina, espírito empreendedor e principalmente, saber selecionar e direcionar o trabalho a um público-alvo.

Que dicas você daria a quem quer começar?
Dedicação, disciplina, vontade, coragem e paciência são pré-requisitos para quem deseja começar. No caso da encadernação e cartonagem existem alguns livros muito bons como:

– Making Memory Boxes, by Barbara Mauriello

– Japanese Bookbinding by a master craftsman

– Books, Boxes and Wraps, by Marilyn Webberley and JoAnn Forsyth

– The Best of Brochure Design 07 (para pesquisa de possibilidades do Design Gráfico… os projetos não são artesanais, mas baseados no trabalho artesanal)

– Experimental Formats & Packaging (Também relacionado ao mundo do Design Gráfico… os projetos não são artesanais, mas baseados no trabalho artesanal)

Entre muitos outros…

Porém, o mais importante é conhecer o material, suas propriedades e ser criativo. Pode parecer propaganda, mas recomendo meu curso :-). O contato e a possibilidade de perguntar coisas a alguém que conhece e trabalha há algum tempo com encadernação são importantíssimos, acho que nada pode ser mais didático que a troca de experiências. Outra coisa importantíssima é o cuidado na pesquisa de material e estar sempre atualizado com relação ao mercado.

Como você divulga e vende seu trabalho?

Meus maiores divulgadores são meus próprios clientes e amigos que fazem a propaganda boca-a-boca. Mas, além disso, tenho uma vitrine na gráfica de uma amiga, e eventualmente participo de feiras e eventos. Tenho também imagens dos produtos em sites de relacionamentos onde os amigos e curiosos podem sempre conferir as novidades. A maior parte dos produtos é feita por encomenda, a partir de contatos adquiridos com a divulgação boca-a-boca. Participo de feiras eventuais e muita gente me procura para fazer peças para eventos. Além é claro, da gráfica da minha amiga, citada anteriormente.

Você acha que a internet pode ajudar na divulgação do seu trabalho?

Claro que pode, aliás, já está ajudando. Graças a ela já existem pessoas de várias partes do Brasil e do mundo que elogiam e encomendam meus produtos, além de possibilitar a pesquisa sobre o andamento do mercado no Brasil e no mundo. Acho o Elo7 uma ótima iniciativa. Principalmente para tirar essa máscara de que produto artesanal é aquele que não acompanhou o desenvolvimento da tecnologia. Vocês acreditam que já cansei de escutar coisas do gênero? Nosso produto não é industrializado, mas sua divulgação e venda podem e devem seguir as tecnologias. Graças às tecnologias atuais, meus produtos já foram para diversas partes do Brasil e do mundo. Espero e desejo que o Elo7 colabore para que isso continue acontecendo.

Você tem algum hobby que gostaria de citar?

Gosto de fazer tantas coisas… mas uma em particular: não consigo ficar muito tempo sem fotografar. Adoro registrar momentos dos quais participo. Sempre que viajo, 95% das fotos são de texturas ou de detalhes que observo ao meu redor e não resisto em registrar. Qualquer coisa que fuja do “lugar comum”, dificilmente escapa das minhas lentes compulsivas. Gosto da possibilidade de ler o mundo de formas diferentes, pelos detalhes e não pelo todo. Minha recomendação é: saia de casa um dia sem pensar em nada e observe, focalize o olhar, esqueça o todo e repare nos detalhes. Você verá um mundo totalmente diferente e inspirador.

Fale um pouco mais de você.

Não consigo viver sem a família, animais (principalmente cães), natureza, trabalho, minha câmera fotográfica e internet (adoro poder me comunicar com o mundo). Não tenho filhos ainda, mas tenho sim uma cachorrinha que cuido e trato como tal, é a minha vidinha, meu denguinho, faço tudo por ela. Sou apaixonada pela vida e por tudo o que ela me deu: família, amigos, animais e trabalho. Posso dizer que sou feliz por ter conquistado tantas coisas boas nesses meus 25 aninhos, mas sou incansável e ainda quero e VOU conquistar muito mais… Vou citar as palavras do “mestre” Gonzaguina no refrão da música que rege a minha vida:

“Eu fico com a pureza das respostas das crianças…
É a vida,
É bonita e é bonita…

Viver…
E não ter a vergonha de ser feliz…..
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz…..

Eu sei…
Que a vida devia ser bem melhor e será

Mas isso não impede que eu repita …

É bonita
É bonita
E é bonita”

:-)

Visite a loja de Fernanda: https://www.elo7.com.br/fesendra

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