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Entrevista com Flávia Rocha

Entrevistamos Flávia Rocha, da loja Neguinha Suburbana. Flávia trabalha com tecidos e madeira e adora fazer bonecas, painéis, enfeites e utilidades, tudo bem colorido. Neguinha Suburbana surgiu por acaso, no ano 2000. Para compensar a solidão de morar sozinha em outro estado, Flávia começou a bordar para se distrair.

Flávia, conte-nos como tudo começou.

Minha paixão por artesanato vem desde a infância. Minha avó paterna sempre gostou e fez muitas coisas, e eu costumava passar muito tempo com ela. Desde pequena era fascinada por tecidos, linhas e tintas. Quando criança fiz algumas aulas de pintura (em vidro, de quadros), aprendi a fazer tricô e gostava de fazer roupinhas para as minhas Barbies. Entretanto, só comecei a fazer artesanato pra valer em 2000, quando tive que me mudar pra São Paulo, para fazer meu doutorado. Não conhecia quase ninguém na cidade, me sentia sozinha e resolvi ter um hobby. Comecei fazendo ponto cruz, entrei em grupos de discussão pela internet, conheci várias pessoas, fiz várias e amigas e aí comecei a explorar outras artes: pintura country em madeira, patchwork, fuxico. bijouteria e, mais recentemente, o feltro. Me descobri!

Você exerce alguma outra profissão além de artesã?

Eu sou bióloga, professora universitária. Infelizmente não dedico ao artesanato o tempo que gostaria, pois trabalho muitas horas por semana na faculdade. Nas férias e feriados prolongados é que eu aproveito o tempo para criar novas peças, além das encomendas. Ultimamente meu esforço de produção tem sido direcionado pelo volume de pedidos. Quando os pedidos chegam, tenho que fazer o tempo esticar! A partir do semestre que vem, entretanto, já estou me organizando para ter mais tempo para as minhas costurinhas. O artesanato hoje é uma parte fundamental da minha vida. Começou como um hobby, uma forma de aliviar o estresse e amansar a solidão, e hoje é um complemento à minha renda.

Quais são suas habilidades e especialidades?

Gosto muito de bordar ponto cruz, embora não faça peças para vender, pois é trabalhoso e demorado (o retorno em geral não compensa). A paixão mesmo é a costura e a criação de bonecas e bichinhos.

Que tipo de trabalho artesanal lhe proporciona mais prazer?

O ponto cruz, a costura e a pintura em madeira.

Quais materiais e equipamentos você costuma utilizar?

Uso tecidos de algodão, feltro, tintas PVA e de tecido, fitas, botões, galões, sianinhas, aviamentos em geral. Meu equipamento principal é minha fiel companheira, uma máquina de costura Facilita Plus, da Singer. Estamos juntas desde 2003. E muitas tesouras e cortadores de tecido.

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que você faz.

Eu gosto de trabalhar com produção em série, mas não necessariamente do mesmo modelo. É que quando eu vou fazer uma peça eu já começo a ter idéias para várias outras. Então primeiro eu faço um esboço de tudo o que eu quero fazer naquele dia, depois corto todas as peças, e aí vou costurando uma por uma. Só os acabamentos que eu não consigo fazer em série. Eu costuro uma peça e já faço o acabamento dela, de forma que as peças, mesmo seguindo o mesmo modelo, sejam sempre diferentes, nem que seja em algum pequeno detalhe.

Você tem um atelier?

Acabei de me mudar para um novo apartamento e aqui tenho um quarto só pra mim, em que terei que conciliar meu trabalho como professora, meus livros, material de aula etc., com minha máquina de costura, meus tecidos e minhas revistas. Estou tentando organizar meu espaço para que tudo fique à mão e para que eu possa fazer tudo num só ambiente. Até agora, eu tinha um cantinho em casa onde eu guardava meu material e usava a mesa de jantar para cortar tecidos, fazer aplicações, acabamentos. A máquina de costura ficava em outro lugar, o que dava um certo trabalho e não agilizava muito a produção. Imagino que agora conseguirei deixar tudo mais prático, e assim conseguirei criar coisas novas.

Você dá cursos?

Ainda não, mas como sou professora, gostaria de dar, especialmente de feltro, para crianças e adolescentes. Faço tutoriais para amigas, de vez em quando, mas não com muita freqüência, por uma simples questão de falta de tempo. Adoraria conseguir dividir mais o conhecimento com outras pessoas.

Você trabalha sozinha?

Eu trabalho sozinha. Ainda produzo poucas peças por vez, então não há a necessidade ainda de ter alguém comigo. Meu marido é meu “controle de qualidade”, e sempre me ajuda a decidir entre tecidos e modelos. Tenho algumas amigas artesãs que conheci pela net e hoje são amigas do dia a dia. Dividimos moldes, idéias e opiniões.

Quais características você considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

A harmonia de cores e o acabamento. Não tenho medo de desmanchar um produto e começar do zero se eu não achar que ficou próximo de perfeito. Quando faço um produto penso sempre na satisfação do cliente em saber que aquela peça foi feita com todo o cuidado.

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão?

Acho que a maior dificuldade é a falta de valorização ao trabalho do artesão. Muitas pessoas não entendem a complexidade de uma peça feita à mão e nem o fato de que as peças, por mais parecidas que sejam, são únicas. Embora muita matéria-prima seja barata, a peça artesanal é trabalhosa de ser confeccionada. Acho, entretanto, que estamos num momento de transição de pensamento. Já vemos hoje um aumento na procura por produtos exclusivos e não industrializados.

Eu acredito que o artesanato no Brasil esteja em franca expansão. Há espaço e clientela para todos. Mesmo aqueles produtos que sejam “cópias” de modelos pré-existentes terão uma marca única, como uma assinatura de quem fez. Esse é o charme do produto feito à mão: eles serão sempre únicos. Mesmo que duas peças iguais sejam feitas pela mesma pessoa. O artesanato pode ser associado com a melhoria de vida de algumas comunidades, e temos hoje no Brasil uma série de exemplos de ONGs e outras instituições que ajudam a mudar a vida das pessoas através do trabalho artesanal, fazendo dele uma alternativa de renda. Viver unicamente de artesanato implica muita perseverança e dedicação, mas é perfeitamente possível para muitos grupos.

Há uma mudança de paradigma em curso. A população está cada vez mais à procura de produtos atrelados a algum tipo de responsabilidade social e ambiental. Muitas pessoas estão rejeitando produtos da industrialização e massificação, procurando peças para si pu para presentear que possam ser exclusivas, únicas e com identidade.

Você acredita que é possível viver exclusivamente do artesanato?

Há possibiliade sim. É necessário ter perseverança e dedicação. E é importantíssimo descobrir as lacunas regionais, para começar, e manter o foco. Ter um grupo de peças-curinga em torno das quais as outras são desenvolvidas. Assim é mais fácil estabelecer inclusive a identidade do artesão.

Que dicas você daria a quem quer começar?

Muito treinamento. Não ter medo de errar, arriscar, recomeçar. Descobrir dentro de si o que dá mais prazer em fazer, e trabalhar muito. Prourar se aperfeiçoar, trocar informações, perguntar, fazer, refazer, desmanchar. Ficar de olho nas lacunas do mercado e manter o foco. E não desanimar jamais.

Que atributos definem um bom artesão?

Acho que mais importante até que a criatividade são a perseverança e a paciência. E deixar a sua marca em cada peça confeccionada.

Como você divulga seu trabalho?

Minha divulgação é essencialmente via internet. Acabo fazendo algumas vendas pelo boca-a-boca, por indicação de pessoas que já compraram comigo. Coisas importantes na divulgação são boas fotos e depoimentos de clientes. Comecei a vender para amigos e de vez em quando recebo algumas encomendas por indicação deles. Mas hoje meu foco é a internet, via blog, Flickr e principalmente o Elo7, que mudou radicalmente a visibilidade do meu trabalho. Ainda não participei de feiras, mas gostaria muito de participar. Ainda não descobri o caminho das pedras aqui no Rio de Janeiro. De vez em quando mando informativos via email para ex-clientes e amigos, avisando sobre novidades na lojinha do Elo7. Também tenho vontade de deixar algumas peças em consignação em lojas aqui no Rio, mas para isso preciso aumentar bastante o meu estoque. A internet hoje é essencial. Ela faz com que nossos trabalhos possam alcançar distâncias inimagináveis. Sites como o Elo7 aumentam a visibilidade do artesão, facilitam muito na hora da compra, uma vez que dão ao cliente uma série de opções. O Elo7 mudou o rumo das minhas vendas, deu credibilidade aos meus produtos e facilitou a vida daqueles que já costumavam comprar comigo. Embora ainda faça mais vendas particulares que propriamente via ferramentas do site, 85% das pessoas que chegam até mim, vêm via Elo7.

Fale um pouco sobre você.

Sou leitora compulsiva desde criança, adoro uma boa música e bons filmes, amo cozinhar (cozinhar é uma arte) e fotografar. Não vivo sem paixão. Preciso de muita paixão em absolutamente tudo o que eu faço, em todos os aspectos da minha vida. Ainda não tenho filhos, mas é um projeto para os próximos anos. Tenho um cachorrinho da raça Yorkshire, meu xodó, o Pingo, de 9 anos. Eu sou uma bióloga apaixonada por fotografia, culinária e, é claro, artesanato. Adoro tudo o que é colorido e alegre. Preciso de paixão. Sou perseverante.

Saiba mais sobre o trabalho de Flávia Rocha:

 

 

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