Somos reconhecidos como um site que divulga produtos feitos à mão, criativos, fora de série. E desde que o Elo7 surgiu em 2008, nossa equipe se depara com a questão: afinal, o que define se um produto é artesanal ou não?
Realizei muitas pesquisas sobre o tema e fico muito feliz de compartilhar um pouquinho delas com vocês nesse post. :)
Gosto muito da definição da Unesco (1997): “Produtos artesanais são aqueles confeccionados por artesãos, seja totalmente à mão, com o uso de ferramentas ou até mesmo por meios mecânicos, desde que a contribuição direta manual do artesão permaneça como o componente mais substancial do produto acabado.”
Recentemente, o governo federal criou o Programa do Artesanato Brasileiro e um documento denominado Base Conceitual do Artesanato Brasileiro
O que podemos concluir dessas definições é que mesmo que um produto seja criado e produzido com o auxílio de instrumentos e máquinas, a destreza manual e humana é o que dará ao objeto uma característica própria e criativa, refletindo os sentimentos e cultura de seu criador. Os produtos fora de série contam histórias!
Infelizmente, as definições dos dicionários brasileiros ainda carregam a desvalorização que a produção artesanal sofreu com os processos de industrialização e produção em massa de produtos. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define algo artesanal como: “diz-se das coisas feitas sem muita sofisticação; rústico.” e o Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa: “que é feito através de meios rudimentares, às vezes sem qualquer método; que apresenta figura grosseira.” Dicionários de outros países, como o The Concise Oxford Dictionary of Current English estão um passo à frente ao definir o “craft” como um “fazer de maneira habilidosa (criar um poema; uma obra bem feita).” e o Le Grand Robert de la Langue Française define o “artizan” como uma “pessoa que pratica uma arte, uma técnica até mesmo estética (este uso acumula os sentidos de artesão e de artista).”
Num próximo post, falarei especificamente do valor do artesanato na contemporaneidade. Mas, desde já, gostaria de defender que não há como comparar um item feito à mão a um industrializado. A produção e a maneira de comprar e vender são totalmente diferentes. O que precisamos levar em consideração ao adquirir um produto feito à mão, além do produto finalizado, são os valores imateriais que estão por trás de sua criação e comercialização (tempo e sentimento dedicado pelo artesão, relações econômicas descentralizadas, empreendedorismo criativo, humanização das relações, exclusividade etc).
Para finalizar, deixo vocês com a sensibilidade da Cecília Meirelles:
“O mundo feito à máquina não compreende os bordos irregulares do barro, não gosta dos vidrados escorridos desigualmente, não aprecia a boniteza torta das canecas, das jarrinhas sem equilíbrio total”
E outra frase com a percepção de Octavio Paz (Prêmio Nobel de Literatura 1990):
“Feito com as mãos, o objeto artesanal conserva, real ou metaforicamente, as impressões digitais de quem o fez.”
Até o próximo post. ;)
*Para visualizar o arquivo Base Conceitual do Artesanto Brasileiro é necessário o uso do Adobe Reader, disponível para baixar gratuitamente aqui.
Imagem de destaque: Louise Machado Designs