Conheça o que é a jarina – Por Lou Segatte

A Lou Segatte, designer que desenvolve acessórios utilizando sementes, madeiras, cascas de frutos, palhas e fibras coletadas nas florestas brasileiras, é a nossa convidada de hoje para falar sobre a jarina, uma semente fantástica que ela mesma usa nos lindos acessórios que faz.

Lou, obrigada pela matéria ! Adorei conhecer o que é a jarina e fico impressionada com o resultado do seu trabalho com essa semente tão interessante.

Para quem quiser falar com a Lou enquanto a lojinha dela no Elo7 ainda não está pronta, é só escrever para lousegatte@hotmail.com.

Um beijo,

Mônica Ipolito.

Reportando à Antiguidade, nos damos conta do quanto é importante cultivar a beleza dos ornamentos. Grandes artesãos confeccionaram joias únicas, com valores absolutos, utilizando produtos que a natureza oferecia. Atualmente a cultura desses povos volta a ser a grande alavanca para a criação da joalheria moderna. E é nesse histórico que tomamos conhecimento da joia produzida há muito tempo pelo indígena brasileiro. A confecção das peças até pouco tempo atrás servia apenas para ornamentar seus próprios povos. Os inúmeros materiais que a natureza ainda oferece, atualmente fortalecem economicamente essas etnias e em consequência disso, vemos hoje espalhadas por todo o território nacional e internacional as joias orgânicas ainda pouco conhecidas.

Dentre as milhares de espécies nativas da floresta brasileira, algumas fazem a diferença quando confeccionamos joias artesanais. Exemplo disso é a semente de jarina, conhecida também como marfim vegetal da Amazônia. Dessa palmeira nativa usavam-se apenas as palhas para cobertura de ocas e também os frutos para alimentação de homens e animais.

A jarina é uma palmeira nativa da região equatorial das Américas Central e do Sul e também conhecida como marfim vegetal pela produção de sementes de consistência e coloração semelhantes ao marfim animal. É uma palmeira que possui crescimento lento, sendo encontrados indivíduos com mais de 100 anos de idade. As folhas (palhas) são utilizadas para cobertura de casas por populações locais, a polpa não amadurecida utilizada para alimentação humana e de animais e as fibras para confecção de cordas.

Contudo, a parte mais usada da planta é a semente. Essas amadurecidas tornam-se duras, brancas e opacas como o marfim, com a vantagem de não serem quebradiças e são fáceis de serem trabalhadas. A semente tem uma casca composta por três camadas, sendo a mais interior fortemente fixada à amêndoa e, em geral, preservada pelos artesãos, pois permite desenvolver belos trabalhos. A árvore fêmea produz cerca de 6 a 8 cachos de frutos/ano, pesando cerca de 9 a 12 kg, com 8 a 12 sementes cada fruto. A semente tem aproximadamente 2,0 cm de diâmetro, pesando 35 gramas em média.

Os frutos amadurecidos caem e soltam as sementes, permitindo a secagem que dura de 4 semanas a 4 meses, dependendo das condições climáticas. A semente tem forma triangulóide e leva de 3 a 4 anos para germinar e as plantas de 7 a 25 anos para início da frutificação.

A espécie pode ser encontrada a partir de 150 a 200 m até 1.000m de altitude, em submata inundável, à sombra das árvores altas, nos lugares arejados, em temperatura de 22 a 28º. Normalmente são encontradas em bosques de sua própria espécie, formando aglomerados homogêneos também conhecidos por jarinais.

O pré-beneficamento da jarina consiste na secagem da semente ao sol por três meses ou mesmo em estufa. A casca que cobre a semente é removida de forma manual, utilizando facas ou canivetes, deixando-as secar ao sol mais uma semana.

Entre as várias possibilidades de beneficiamento da jarina estão: a produção de artesanato ou biojoias, de peças de decoração ou botões.

Os produtos à base de jarina têm prazo de vida. As sementes tem vida de 5 a 10 anos, pois podem sofrer ataque de microorganismos, dependendo muito dos cuidados adotados pelo consumidor.

Os nativos da América do Sul como Maias, Incas e Astecas usaram jarina para melhorar a saúde emocional, a saúde espiritual e, de um modo geral, para o bem-estar. Para eles a jarina é tão sagrada quanto às árvores de bodhi são para as pessoas da Índia e do Sudeste da Ásia. A noz da jarina tem a força e a inteligência de um elefante, por isso os nativos da América do Sul l he chamaram marfim vegetal.

Nas culturas asiáticas, a palmeira de jarina é a Ganesha, o Removedor de Todos os Obstáculos. A noz desta árvore sagrada é um domicílio vivo de Lakshmi, a deusa da Prosperidade; nas suas folhas reside Sarasvati, a deusa da Sabedoria; nas suas raízes vive Parvati, a deusa de Fertilidade; e Durga, a deusa de Resistência e Virilidade mora no seu tronco. Desde sempre que as yantras e as mandalas feitas de jarina foram um dos objetivos principais nas viagens sagradas dos sábios. A jarina ocupou um lugar importante em vários aspectos da vida: na dieta e na medicina, nos rituais, nas belas artes, e também como joia, por causa do seu valor espiritual e por suas propriedades curativas.

Os curandeiros indígenas usam jarina para reforçar a vitalidade e curar doenças causadas pela baixa energia ou pelo enfraquecimento do sistema imunitário. A jarina corresponde ao Sol e à energia do plexus solar, por isso confere também poder, vontade e determinação. Julga-se que tem um efeito sobre a nossa medula óssea.

Os artistas na Colômbia esculpem a jarina e coloram cada pedaço à mão. Seguindo os princípios de yantras e mandalas, os indianos usam estas peças em combinação com outros materiais naturais. Combinada com as pérolas, a jarina estimula as virtudes tenras do coração, do amor, da compaixão e da bondade. O resultado é uma joia sagrada; a passagem para o mundo da beleza interior.

Você pode usar as jarinas como um ornamento, como um amuleto natural para melhorar sua saúde, e também para favorecer o seu crescimento espiritual.