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Entrevista com Andressa Amaral

Andressa, conte-nos como você entrou para o mundo do artesanato.

Desde muito criança estive rodeada por várias expressões de arte e materiais artísticos. Minha mãe desde os 17 anos já havia descoberto a arte! Meus irmãos são músicos e lindos! Como não podia ser diferente também me aventuro por esses caminhos, e não deu outra. Mais precisamente em 1997 comecei a extravasar tudo que minha sensibilidade havia captado desde a gestação. Hoje respiro arte em todas suas vertentes! As cores, as formas, composições, harmonia, o movimento, o conceito… Tudo me fascina! E como válvula de escape vivo na necessidade de criar. Amo a arte em todos os aspectos e me divido em mil para tentar extravasar todas as idéias que moram em meus pensamentos. Eu iniciei no artesanato de forma espontânea, creio que pela necessidade de criar. E como foi dando certo acabou sendo minha profissão. Hoje faço artesanato porque me dá vontade ou porque tenho encomendas.

Sou formada em Design Gráfico e tento aproveitar essa formação à minha marca Maria Chiquinha. Meu projeto de graduação foi sobre a importância do Design aliado ao artesanato. Com essa intersecção é possível agregar valores aos produtos como: conceito, ergonomia, funcionalidade, logística, etc. Eu dedico tempo integral à essa atividade, que é minha fonte principal de renda. E essas minhas duas profissões se cruzam o tempo todo!

Quais são suas habilidades?

Trabalho com modelagem em porcelana fria, apesar de já ter me aventurado com massa fimo, argila e paperclay. Minha especialidade? Hum…não sei! Acho que ilustrações, chaveiros e lembranças. Eu tento me focar no Biscuit senão quero fazer de tudo, mas prefiro me especializar em uma coisa só senão não dou conta! Mas amo scrapbook, faço nas horas de lazer. Também gosto de pintar, mas esse não é muito o meu forte.

O que você costuma utilizar em seus trabalhos?

Além da massa de porcelana fria, uso estecas para modelar, rolinhos de textura, rolo para abrir massa, miçangas, extrusoras, cola, tintas de tecido, tintas à óleo, tintas acrílicas, vernizes, fitas de cetim, mdf, dentre outros. Eu busco inspiração em tudo! A internet é um mundo de inspirações, nela é possível ter acesso ao artesanato e cultura do mundo todo! Mas geralmente o que mais gosto é da arte do Japão! Os mangás, as bonequinhas, gueixas… É uma cultura muito rica e cheia de conceitos! Toy art também tem sido fonte de inspiração pra mim, bonecos de formas simples e expressivas. Artistas que admiro: Romero Britto, Tim Burtom, Mark Ryden, Shintaro Tsuji (e tudo da Sanrio), Simone Legno (da Tokidoki)… estes foram os que eu lembrei, com certeza tem mais.

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que você faz.

Trabalho com presentes diferenciados. Tem os toys Minimins que são os bonecos feitos a partir de fotos do cliente. Eles não são caricaturas. Costumo dizer que são como desenhos animados do cliente. Os minimins podem ser pessoas “normais” ou noivinhos e casais. Também faço chaveiros em coleções. Cada safra um tema diferente. Dentro desse segmento tem a linha de personagens punk’s, as fadoletas e fadinhas da saúde, a linha 7vidas (tudo de gatinhos) dentre vários outros personagens. Trabalho também com lembranças personalizadas, atendendo a vários tipos de necessidades de meus clientes. Minha marca ainda possui os segmentos de design gráfico, bijoux divertidas (onde trabalhamos eu e uma amiga também designer) e decoração (onde minha mãe e eu coordenamos).

Você tem um atelier?

Por enquanto estou me adaptando em uma nova cidade. Entretanto o atelier está passando por melhoras. Creio que em julho tudo fica pronto, assim terei um espaço melhor para receber as pessoas. Hoje a maioria ou quase todos meus clientes são feitos através da internet.

Se alguém visitá-la, o que encontrará lá?

Muita bagunça, claro! Acho que todo atelier é bagunçado, não? Às vezes eles se comportam para uma foto e outra. Tem de tudo! Muitas caixas, muitas tintas e papéis, muitos projetos em andamento!

Você trabalha sozinha?

Em alguns segmentos conto com a minha mãe que é artista plástica e a também designer Elisa Lima.

Quais características você considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

Com certeza a mais essencial delas é o acabamento! O carinho de fazer cada peça ser perfeita, ou quase perfeita. Eu busco a excelência em cada detalhe. Seja ela no produto final ou na apresentação dele.

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão?

Atender a demanda com qualidade. Também acho difícil crescer, expandir os horizontes como micro empresa. Eu penso que hoje há uma tendência na procura por produtos personalizados, e isso é uma vantagem para nós que trabalhamos com artesanato. Quanto à pirataria e falsificações, esse é o ponto em que a busca pela união entre o design e o artesanato são de fundamental importância. Não sei se seria proveitoso, mas deixo aqui um pedaço do artigo do meu projeto de graduação, que fala um pouco desse tema:

Eduardo Barroso em seu artigo para a “Primeira Jornada Ibero-americana de Design no Artesanato” comenta num apanhado bem amplo sobre a problemática atual do artesanato, o valor do artesanato para o país e a necessidade do design associado ao artesanato. Comenta que o artesanato, enquanto produto com valor de troca, obedece às leis universais da oferta e da procura. E o mercado é implacável, rejeitando aquilo que não corresponde as suas expectativas de consumo.Sendo assim, o autor trata como fundamental a construção de uma imagem positiva, e também da necessidade de se agregar valor aos produtos artesanais a fim de se tornarem mais competitivos e valorizados no mercado atual.

“… estes produtos (produtos artesanais) oferecidos deverão incorporar algo mais, serem exclusivos, singulares, com uma história própria.Deste modo descobre-se que o segredo da competitividade não está na redução dos custos, mas na agregação de valor. E isto se consegue de diversas maneiras, porém a principal delas é através da utilização do Design.” (BARROSO Eduardo, 1999).

Em relação à geração de trabalho e renda, vejo que o artesanato é uma opção e às vezes a única para tantas famílias brasileiras que não obtiveram educação e oportunidade de emprego formal. Mas também isso faz com que nossa cultura permaneça viva. Se pensarmos na grande massa, acho que não podemos concorrer com produtos industrializados. Mas em produtos conceituais sim, temos muito a conquistar. O artesanato de boa qualidade tende a ser usado em novos produtos agregando valor cultural, como vejo alguns designers de móveis utilizando materiais alternativos e artesanais como treliças e macetaria, também diversas outras técnicas em peças decorativas, estilistas usando nossos bordados em suas coleções dentre outros casos que valorizam o “feito à mão”.

É possível viver do artesanato?

É possível, porém árduo! É muito tempo dedicado, muitas tarefas além do artesanato, como atendimento ao cliente, busca por materiais etc. O meu desafio maior tem sido a expansão dos negócios, da marca, e produtos oferecidos. É complicado trabalhar em parcerias e difícil encontrar mão-de-obra qualificada.

Que dicas você daria a quem quer começar?

Como boa designer minha primeira dica seria para o artesão se interessar por Design, assunto que hoje para o mercado competitivo é fundamental. E não esse design que ouvimos falar incessantemente em várias mídias. Falo das ferramentas do design como a boa forma, acabamento, criatividade, funcionalidade, ergonomia, harmonia, equilíbrio, conceito, originalidade. Segunda dica seria começar por aquilo que realmente gostar, levando em conta as suas habilidades e o que sabe fazer melhor. Também é preciso estudar, saber de onde começou a técnica, quais artistas a criaram, quais os que mais se sobressaíram. Isso ajuda a entender a história e a criar novos rumos.

Que atributos definem um bom artesão?

Paixão pela arte, criatividade e originalidade.

Como você divulga seu trabalho?

Basicamente pela internet. Tenho um site e portfólio virtual que eu mesma projetei, participo da comunidade Flickr, tenho um fotolog e blogger. Procuro fazer parte de várias comunidades, cada uma com uma finalidade. A qualidade da divulgação pra mim é o mais importante. A imagem, a marca, e a credibilidade que devemos transmitir.

Onde você costuma vender seu trabalho?

Somente pela internet nos meus canais. A internet é a divulgação do meu trabalho. Comecei atendendo a clientes da minha antiga cidade de Governador Valadares. Bem no início fiz um fotolog para mostrar meu trabalho. Hoje em Belo Horizonte o que divulgou meu trabalho para o Brasil todo e vários lugares do exterior foi meu site e Flickr. Eu tive minha conta do flickr deletada há algum tempo por eles entenderem que eu fazia comércio. Eu penso que regras devem ser respeitadas, mas a partir do momento que são boas fotos (no caso do flickr que é uma comunidade de fotografias) e de bons produtos não concordo com essa regra. Pois o artesanato é o reflexo da nossa cultura. E em muitos casos as fotos não são feitas com o intuito de vender.

O que você acha indispensável para o artesão?

Respeito ao trabalho dos outros artistas. Vejo muitos casos de roubo de imagens e falta de créditos em imagens de trabalhos feitos por outras pessoas.

Fale um pouco sobre você.

Adoro música, adoro livros de arte, ilustração, design. Não consigo viver sem meu leite com café, sem trabalhar, sem modelar, sem fazer algum artesanato, sem minha família. Não tenho filhos, só uma cachorra (Dashund) doida que se chama Luna Gatuna!

Para conhecer o trabalho de Andressa, visite sua loja: https://www.elo7.com.br/mariachiquinha/

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