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Entrevista com Camila Gulla da A Cor do Brasil

Como tudo começou? O que é A Cor do Brasil ? Conte-nos um pouco sobre você e seu trabalho.

Sempre estive envolvida com a arte de alguma maneira, pois meu pai é escultor. Há cerca de dez anos, ele resolveu criar um grupo de jovens artistas, e então surgiu o nome “A Cor do Brasil”. Quando ele foi passar uma temporada em Portugal, começamos a trabalhar com a resina, na criação de brindes e cartões. Da criação de pequenas peças para serem coladas em cartões, surgiram as bijuterias – que hoje apenas eu continuo fazendo, pois esse grupo acabou se separando com o tempo. Mas há a idéia de num futuro próximo retomar este trabalho em grupo, essa convergência de jovens talentos.

Além de artesã, você exerce alguma outra profissão?

Realizo alguns trabalhos junto ao instituto de escultura do meu pai, mas a maior parte do meu tempo no momento é dedicada ao artesanato. Parei com as bijuterias totalmente durante dois anos, em que fiquei trabalhando no instituto em tempo integral, mas vi que isto é algo que não tenho como parar.

Você busca no artesanato uma fonte de renda, um meio de aliviar o stress ou ambos?

Na verdade, as artes e o artesanato são um estilo de vida para mim – a maneira como me expresso. Sobre aliviar o stress, acho que no meu caso vai além: quando estou criando, perco a noção do tempo, não me canso, fico totalmente focada… Esta é a única atividade que me proporciona esta sensação.

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que faz. Quais os tipos de produtos, as principais características e diferenciais de cada um, os materiais e equipamentos utilizados.

A característica principal e inconfundível do meu trabalho são as peças em resina, que são o diferencial das minhas bijuterias. São diversos os passos que realizo. Começo com o desenho da peça, o modelo original que esculpo em cera, faço o molde de silicone, as peças em resina, às quais dou o acabamento, que consiste em lixar e furar, e depois vem a pintura e a montagem… é um longo processo para que cada peça fique pronta, mas vale a pena pela exclusividade e possibilidade de materializar exatamente o que tenho em mente.

Recentemente me apaixonei também pela encadernação manual, faço pequenos cadernos de anotação ou “sketchbooks”, alguns dos quais forro em tecido, mas os que prefiro são os que levam na capa desenhos originais, que eu pinto em aquarela e impermeabilizo. Dá bastante trabalho, mas gosto demais do resultado! Posso até fazer outro muito parecido depois, mas cada peça é única, exclusiva.

Você trabalha sozinha ou tem uma equipe? Você tem um atelier ou compartilha espaços de casa para suas criações?

No momento estou trabalhando sozinha, mas já tive uma equipe (antes da pausa que fiz por dois anos) e pretendo ampliar a produção novamente. Estou trabalhando em casa, em um cômodo no qual montei uma oficina, mas já sinto necessidade de ampliação de espaço, pois é difícil dividir o mesmo ambiente entre a resina, pintura, montagem das bijuterias e a encadernação. E como não sou a pessoa mais organizada do mundo… imagina! Quando se tem mais espaço é possível a instalação de mais prateleiras, gaveteiros, etc. que ajudam muito na organização. Apesar de desorganizada, eu sei onde se encontram a maioria das coisas de que necessito, o que é muito importante, pois se perde muito tempo procurando materiais.

Quando produz seus próprios trabalhos manuais, quais características considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

Normalmente, demora algum tempo até eu ficar satisfeita. Quando crio um modelo novo, testo diversas combinações de cores, acabamentos, a montagem, nem sempre é logo de cara que gosto.

E quando se tratam de novas técnicas, como a encadernação, só depois de vários testes gostei do resultado final, pois sou um pouco perfeccionista.

Normalmente eu tenho que investir algum trabalho e experiências para chegar a um resultado que me faz dar um grande sorriso e dizer “Assim está ótimo!”.

Que atributos definem um bom artesão em sua opinião? Quando analisa produtos de terceiros, que atributos consideram para definir o trabalho como um bom produto artesanal?

Acredito que o atributo principal, essencial, é o estilo próprio. Você pode aprender técnicas através de passo-a-passo, tutoriais, revistas, televisão, mas se imprime sua personalidade, seu toque pessoal, você inova. E isso transparece claramente no produto final.

Gosto muito de uma entrevista com o cineasta Jim Jarmusch em que ele diz que “Autenticidade não tem preço; originalidade não existe”. Você não vai “inventar a roda”, e é claro que todos nós temos inspirações, referências. O importante mesmo é ser autêntico, deixar transparecer um pouco de si em tudo que faz.

Outras coisas também contam muito, como ter sempre muita atenção aos detalhes, ao acabamento, e sempre se reciclar, aprender novas técnicas.

 

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão? Você vê perspectivas boas para esse mercado no Brasil?

Trabalhar por si próprio sempre é um pouco difícil, especialmente para artistas e artesãos, que muitas vezes não levam tanto jeito para o comércio. E é claro que o ideal seria poder ficar só criando e ter alguém que venda para você… mas hoje em dia acho que há mais alternativas, e noto como uma tendência mundial a valorização do artesanal, do feito à mão, através de iniciativas como o buyhandmade.org e o sucesso que o site Etsy tem. Eu creio que o Brasil tem tudo para entrar nessa “onda”, especialmente bons artesãos, é só uma questão de conscientização.

Qual o diferencial e valor que o artesanato pode agregar?

Acho que o que atrai no produto artesanal é você imaginar que ele veio das mãos de uma pessoa, que o criou, não veio de uma fábrica, onde a produção é impessoal… tem um ingredientezinho mágico, que é o amor dedicado a cada peça.

Onde e como você costuma vender seu trabalho?

Tenho participado de bazares, vendido ou deixado em consignação em algumas lojas, especialmente em São Paulo, vendo através do Elo7, do Flickr também, e para amigos.

Como divulga seu trabalho e o que você acha mais importante na divulgação?

Eu sei que deveria divulgar mais, e pretendo fazer isso em breve, está nos meus planos montar um banco de dados com todos os meus clientes, novos e antigos, e pessoas que manifestaram interesse, e criar um newsletter periódico. Normalmente divulgo mais quando há algum evento em especial, como os bazares, e geralmente por e-mail, Flickr, blog e orkut.

Você acredita que ferramentas como o Elo7 podem contribuir? De que maneira? Qual sua opinião geral sobre o Elo7? O que você gostaria de ter no Elo7 e que está faltando hoje?

Tenho toda a fé, e acho um instrumento incrível, especialmente pela facilidade de configuração e recursos que possui. Antes do Elo7, fiz um teste com uma outra loja virtual, mas a mensalidade era alta e não era tão fácil de configurar, então quando o Elo7 inaugurou, vim correndo para cá.

Eu acho que falta às pessoas o hábito de comprar artesanato pela internet. Todo mundo já está acostumado a comprar CD´s, livros e aparelhos eletrônicos, mas artesanato é uma novidade, até certo ponto.

Você conhece algum lugar que pode ser considerado o lugar indispensável para quem faz artesanato? Um site, uma feira, uma cidade, uma loja etc.?

Acredito que o importante é se expor. Seja na feira de artesanato da sua cidade (no momento não estou fazendo, mas fiz feira de artesanato por anos, adoro, é uma ótima vitrine), ter blog, colocar suas peças no Flickr (gosto muito de lá). Bazares são ótimos também, nem sempre você vende muito, mas é bom para aparecer. Tenho participado do Bazar Clube das Pinups (https://bazarclubedaspinups.blogspot.com/), em Campinas e São Paulo, e umas quatro vezes por ano, por exemplo, fazemos um bazar (https://ludicabazar.blogspot.com/), uma turma de amigos, com as bijuterias, mini-sebo (super selecionado, com quadrinhos e livros de arte!), encadernação artesanal, retrato desenhado na hora e massagem… é muito bacana.

Você tem algum hobby que gostaria de citar? Fora o artesanato, o que mais você gosta de fazer?

Gosto muito de ler, pesquisar imagens e técnicas na internet, ver séries na TV. Nos finais de semana me reúno com os amigos para “atividades lúdicas”, que podem envolver desde jogar Imagem e Ação, até Pega-Varetas, passando, claro, por um baralhinho…

Tem filhos? Tem algum animal de estimação?

Não tenho filhos, mas tenho 5 cachorros, e dois deles, o Balu e a Viveka que nasceram em casa, são quase como filhos, pois você participa de todas as etapas, desde ajudar no parto, desmame, etc. parece até que eles me consideram um pouco “mãe” deles. Temos muitos pássaros em casa também, meu pai cria, mas eu tenho mais contato com o Tico, uma “Maitaca de Cabeça Azul” (parece um papagaio pequeno), que fica comigo na oficina, às vezes no meu ombro. Ah, acho importante dizer que todos os pássaros são de procedência garantida, com registro. Sou totalmente contra o mercado negro de aves…

Dá pra ver que eu gosto de animais, não é?

Pra fechar, se você tivesse 15 segundos para contar tudo sobre sua vida e seu trabalho, o que você diria?

Recentemente descobri, ou assumi, que só criando e fazendo coisas com as minhas mãos é que posso ser feliz e plenamente útil, realizar meu propósito na vida.


Visita a loja da A Cor do Brasil no Elo7: https://www.elo7.com.br/18ABD

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