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Entrevista com Luciana Giraldo da Tecelinha, São Paulo/SP

Luciana, como tudo começou? Como surgiu a Tecelinha ? Conte-nos um pouco sobre você e seu trabalho.

A Tecelinha foi a forma que encontrei de trabalhar com coisas que gosto de uma forma leve, que fosse útil e que estivesse presente no dia-a-dia das pessoas. Eu sou formada em Artes Plásticas pela Unicamp, e tive o privilégio de ter ótimos professores que sempre nos direcionaram para o trabalho pessoal de cada um, nos orientando a descobrir e desenvolver nosso próprio olhar. Lá para o 3º ano do curso, eu pintava em tecido os espaços da minha casa e fazia um caderno de tecido pintado, e uma professora muito querida comentou que me via trabalhando com tecidos dali a alguns anos. Eu mesma ainda não tinha percebido que o meu negócio era com tecido, mas ela percebeu…
Depois da faculdade, fiz um curso de tecelagem artesanal e fui me aproximando do trabalho manual cada vez mais, daí foi surgindo a Tecelinha. A paixão que tenho pelos tecidos se associou à vontade de fazer bichinhos que tivessem formas mais parecidas com os bichos de verdade e com o nascimento do meu sobrinho comecei a desenvolver coisas para bebês e testar as possibilidades que o tecido permite.

Além de artesã, você exerce alguma outra profissão?

Além de artesã, eu exerço um trabalho de editoria junto a meu pai, pois temos uma pequena editora, e sempre que possível gosto de desenvolver as capas das antologias que publicamos.

Você busca no artesanato uma fonte de renda, um meio de aliviar o stress ou ambos?

O artesanato para mim é algo feito com muita alegria e também com muita dedicação. Pela minha experiência com as Artes Plásticas, dedico ao meu trabalho artesanal algumas lições aprendidas com o desenvolvimento de um trabalho artístico. Por exemplo, eu acho importante estar num processo constante de criação, e testar cada nova possibilidade até chegar num trabalho bem resolvido e bem acabado. Por outro lado, é bem mais tranquilo fazer um monte de elefantinhos do que pintar um quadro, e por isso, para mim, talvez seja mais prazeiroso ficar com os elefantinhos – pelo menos por enquanto…

Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que faz. Quais os tipos de produtos, as principais características e diferenciais de cada um, os materiais e equipamentos utilizados.

O meu trabalho começa com uma ideia, que pode vir de pesquisas pela internet, de vontades que tenho, de conversas com pessoas, de necessidades específicas de alguma cliente, provavelmente de tudo isso misturado. Considero a parte mais importante o desenvolvimento do molde, pois gosto de trabalhar assim, desenhando e testando no tecido, voltando para a prancheta, refazendo quantas vezes forem necessárias para chegar num resultado legal. Um molde, quando bem elaborado, já determina um acabamento bem feito no final, mas é preciso ter muito cuidado e atenção em todos os passos. Eu sou meio que auto-didata na costura, tudo que fui aprendendo foi às custas de bastante tentativa e erro, ou de conversas com pessoas que sabem melhor o que estão fazendo (rss..). Mas eu tenho meus truquezinhos, que são fundamentais para um acabamento bem realizado, coisa que busco sempre. Nada que eu não possa compartilhar. Por exemplo, acho fundamental fazer costura dupla em tudo – assim, mesmo com um bichinho bem recheado, gorduchinho, garanto que a costura não vai ceder com o passar do tempo.

O diferencial do meu trabalho também está no material que uso para fazer os bichinhos, pois o mais comum encontrado nas lojas para crianças são bichinhos de pelúcia. Eu não gosto muito da pelúcia porque acumula poeira, não é tão simples e costumeira a lavagem e num país quente como o nosso, me dá até uma certa aversão aquela coisa quente e peluda (heheh). Por isso escolhi fazer meus bichinhos em algodão de qualidade, que é anti-alérgico e fresquinho, e também tem estampas maravilhosas com as quais podemos nos divertir.

Você trabalha sozinha ou tem uma equipe? Você tem um ateliê ou compartilha espaços de casa para suas criações?

Eu tenho um ateliê de costura em casa, e mesmo quando não estou trabalhando com isso, adoro dar uma passadinha por lá, ficar admirando os tecidos, tendo ideias. Gosto de ter um espaço só para isso, é o quarto da casa que mais me faz feliz, com uma janela bem iluminada, várias caixas e estantes para os tecidos, uma mesa com a máquina, gavetões para os produtos prontos, e um radinho básico sempre ligado durante o trabalho.
A outra pessoa que me ajuda quando temos encomendas de mantinhas em lã, e me faz companhia na maior parte do tempo, é minha
mãe.


Quando produz seus próprios trabalhos manuais, quais características considera essenciais para concordar que o resultado final foi bom?

É preciso passar por todos os passos que o trabalho exige com muita dedicação e cuidado, pois somente tendo essa certeza de executar cada parte do projeto com a melhor qualidade possível é que teremos um trabalho bem acabado no final. Por isso, de cara, olhamos o acabamento – pois ele nos conta como o produto foi feito – se foi com pressa, descuido e displicência com os materiais, ou se demonstra um cuidado, a paciência, a dedicação de quem fez. Além disso, o bom artesanato não é somente a produção de um objeto, há uma ideia, uma intenção – e às vezes, até o sentimento de quem faz. Por isso faço tudo com muito amor e carinho, pois sei a função que estes objetos vão desempenhar no comecinho da vida dos bebês e das mamães.

Que atributos definem um bom artesão em sua opinião? Quando analisa produtos de terceiros, que atributos considera para definir o trabalho como um bom produto artesanal?

Acho que o artesão tem que estar sempre aprendendo, tanto na técnica como no rumo que o seu trabalho deve tomar. Às vezes acho muito importante a gente procurar se colocar no papel de consumidor do seu produto e se perguntar “Como isso pode atender melhor às necessidades que eu tenho?” e estar sempre melhorando.

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão? Você vê perspectivas boas para esse mercado no Brasil?

Neste ramo em que estou, de artigos para bebês, o artesanato tem se difundido bastante, e cada vez mais as mamães querem montar um enxoval feito à mão para seus bebês. Acontece que temos os dois extremos – os produtos artesanais, vendidos em lojas especializadas que saem por um preço absurdo e não valorizam o artesão por trás daquele trabalho, e em um outro extremo temos artesãos que fazem um trabalho todo delicado e cheio de detalhes e cobram um valor baixo, para concorrerem com os produtos industrializados e obterem lucro baseado na quantidade de peças vendidas. Sem querer julgar o caminho, que é de cada pessoa, acredito que a gente deva valorizar o nosso trabalho e os anos que dedicamos aprendendo e elaborando nossos produtos. A minha impressão é que cresce o número de artesãos que estão buscando alternativas para valorizar devidamente o seu trabalho, dispostos a aprender e se aperfeiçoar, antenados no que acontece – e esse é um movimento mundial, em que o Brasil também tem o seu espaço. Nossa tradição artesanal é muito forte, e está sendo reinventada sempre que um artesão se permite ser criativo com um material já conhecido.

Qual o diferencial e valor que o artesanato pode agregar?

A exclusividade que cada peça feita à mão apresenta é uma característica que a torna especial, diferente do processo industrial que padroniza tudo. Há artesãos também que estão dispostos a desenvolver projetos especiais para seus clientes a preços que não são exorbitantes, possibilitando que uma ideia se torne realidade. Eu gosto de trabalhar assim pois isso me impulsona a criar coisas que eu não cogitaria de outra forma.

Onde e como você costuma vender e divulgar seu trabalho? Você utiliza que técnicas de venda e de divulgação?

Eu fui crescendo na minha divulgação com o tempo, não tenho nenhuma técnica para isso. Na verdade eu fiz o caminho inverso, comecei com minha loja no site Etsy, e foi legal a experiência de venda para estrangeiros, foi legal ter aceitação neste meio para fortalecer a minha ideia. Depois criei meu blog, uma galeria de fotos no Flickr, e agora no começo do ano, minha loja no Elo7. Quando abri minha loja aqui, eu já sabia que essa questão da divulgação é a maior dificuldade de uma loja nova, então já investi também na divulgação na página principal do site. Isso está proporcionando algumas boas vendas, e fico muito feliz quando acabo de entregar uma encomenda e logo tenho um novo pedido, como vem ocorrendo atualmente. Tem pessoas interessadas no meu trabalho em contato constantemente e embora nem todas realizem uma compra através do site, gosto de conversar e propor as possibilidades para cada uma delas.


Você acredita que ferramentas como o Elo7 podem contribuir? De que maneira? Qual sua opinião geral sobre o Elo7 e que sugestões de melhoria daria para o site?

Com certeza o Elo7 está contribuindo muito, mas essa questão da divulgação pode ser melhorada. Atualmente a gente só encontra os produtos por palavras-chave, ou quando porventura se depara com alguma loja interessante. A minha sugestão é que possamos expandir ao máximo as formas como nos relacionamos com o site, tornando-o mais atraente tanto para compradores como para vendedores.
Como vendedora acho que a gente poderia se ajudar mais na comunidade, a exemplo do que conheci no Etsy, onde há muitas atitudes individuais que são adotadas pela direção do site. Por exemplo, há vendedores mais bem sucedidos que a pedido de um colega que está com dificuldades analisam sua loja, a aparência, os produtos e o ajudam a dar aquela melhorada necessária com alguns toques e conselhos que podem facilitar as vendas. Isso é feito uma vez por semana e divulgado através de um blog do site. No blog eu também gostaria de ver matérias escritas ou sugeridas pelos vendedores e que tenham a ver com essas questões que estão presentes no nosso dia-a-dia de artesãos.
Acho que temos que nos ajudar – isso traz benefícios para todos e para o site em geral, que vai ficando cada vez mais interessante e navegável).
Outra coisa que acho importante é termos outras possibilidades de busca de produtos, como por categorias, por cores, por localização, além de preço,
inclusão recente, nome de loja e tags, pois isso funciona como outras vitrines em que nossos produtos poderão aparecer, independentemente da divulgação paga do site e a experiência de compra pode ficar mais interessante desta forma.


Você conhece algum lugar que pode ser considerado o lugar indispensável para quem faz artesanato? Um site, uma feira, uma cidade, uma loja etc.?

Gosto muito da comunidade de artesãos que utilizam o Flickr, pois há esse espírito de cooperar com os demais colegas, e com certeza há muitas fotos e pessoas inspiradoras. Eu uso o Flickr também para fazer propostas de tecidos para minhas clientes, sugerindo combinações, de acordo com o que elas me pedem, para que elas escolham os tecidos das encomendas. É muito gostoso ter essa relação próxima com o comprador.

Você tem algum hobby que gostaria de citar? Fora o artesanato, o que mais você gosta de fazer?

Gosto de ouvir música, ver (ou melhor ainda: comprar…) tecidos, cozinhar sem pressa, passear no parque e ver coisas bonitas – como meus sobrinhos.


Você tem filhos? Tem algum animal de estimação?

Não, nem um nem outro. Mas tenho meus sobrinhos, que além de serem as coisinhas mais fofas da titia, também são meus clientes vips.

Pra fechar, se você tivesse 15 segundos para contar tudo sobre sua vida e seu trabalho, o que você diria?

Sou uma daquelas pessoas afortunadas que encontraram um jeito de viver fazendo aquilo que amam, e como sei que o importante é continuar sonhando, quero continuar sempre me deparando com novas idéias e possibilidades para a Tecelinha. Se algum dia perco o sono (coisa rara…), aproveito o tempo livre para pensar em todos os detalhes dos meus próximos projetos.

Visite a Tecelinha no Elo7: https://www.elo7.com.br/tecelinha/

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