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Papo com Cris Bertoluci: a anti-vovó do tricô

A Cris Bertolucci também é conhecida carinhosamente nos círculos tricoteiros como “a Vovó”. Mas de vovó ela não tem nem um fio de cabelo!  Ela nos mostra um tricô tão atual  que pode virar um negócio pra lá de criativo. Tanto que seu trabalho foi tema de reportagem da Revista São Paulo com direito a foto de capa – segurando agulhas de tricô, lógico.

Desde os 8 anos de idade, agulhas e as lãs são uma presença forte na vida da Cris. As mulheres da família lhe passaram os conhecimentos básicos de tricô e crochê, até que ela foi atrás de aperfeiçoamento em cursos no Brasil e até no exterior. Hoje ela trabalha dando aulas de tricô, criando no Coletivo Tresponto  e oferece consultoria para estudantes de moda. Recentemente desenvolveu peças para o  Inverno 2012 da Juss, da Casa de Criadores!

Confira nosso papo com a Cris, tão aconchegante quanto uma meia de lã quentinha, regada a goles de champagne entre um ponto e outro ;).

O tricô sempre foi sua paixão. Como se tornou “coisa séria”?
Após a faculdade. Estudei moda e estilo na Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e estagiei em uma revenda de máquinas de tricô do japão. Quando vim a São Paulo, quatro anos atrás, meu primeiro emprego foi numa empresa de fios para tricô manual. Comecei a colocar todo conhecimento adquirido com as máquinas no manual.

Resolvi então fazer as malas e me matricular no  curso de criação do atelier Knit-1, na Inglaterra, onde aprendi a mexer com máquinas caseiras de tricô criando os mesmos efeitos das máquinas industriais que havia trabalhado antes. Abriu muito a minha mente para as possibilidades criativas da técnica.

Existe diferença no tricô ensinado aqui para o que você aprendeu no exterior?
Bastante! A principal, e que principal que aprendi no Knit-1 foi disciplina: nós brasileiros adoramos dar um jeitinho em tudo. E lá fora eles sempre aprendem primeiro o tradicional para depois explorar o manual. Acho que falta uma certa disciplina aliada ao experimentalismo em todo artesanato brasileiro.

No seu trabalho você utiliza tanto o tricô manual quanto à máquina. É possível ser comercial com o tricô manual ? Que dicas você dá para quem quer comercializar peças?

Acho que o mundo está tão industrializado que estamos, cada vez mais, buscando uma identidade no que compramos. Acredito que o tricô é uma grande porta para suprir essa busca. Acho que, quando uma pessoa quer comercializar seu trabalho manual, a primeira coisa que precisa ter em mente é isso. Tem um valor muito maior que peças  industrializadas que encontramos por aí, por isso é necessário valorizar o próprio trabalho.

Como a máquina de tricô ajuda na sua produtividade ?
A máquina é um grande facilitador, principalmente em fios finos, mas  ela não ajuda na produtividade. Para criar uma peça, quase todo meu processo ainda é manual. Mas ela ajuda a criar texturas muito interessantes, a brincar com cores.

No Brasil, fazer tricô é um hobby caro. Você acha possível transformá-lo em profissão?
Quando nos dedicamos de coração em qualquer atividade, ela vira uma profissão! Acho quando mostramos a seriedade do nosso trabalho para o mundo e a reposta é sempre positiva. Precisamos nos manter fortes aos nossos ideais e não transformar os obstáculos em impossibilidades.

O que você acha dos produtos feitos à mão?
Se nossas mãos contém digitais, os produtos manuais contém nossa identidade. E por isso são únicos, fogem da padronização. E têm um valor sentimental e uma história por trás, o que os tornam mais valiosos que qualquer coisa.

Quais blogs/sites de tricô você recomenda que suas alunas visitem?
* A Helen Rödel é uma criadora incrível, uma pessoa excepcional. Assistam o documentário disponível no site dela, mostrando o porquê da valorização do trabalho manual.

* O site americano wool and the gang tem idéias boas  para quem esta começando e não quer se frustrar com o tricô.

* O Craftzine tem coisas legais, algumas até bizarras, de artistas e crafters do mundo afora.

* Amo o trabalho da Margaret Wertheim sobre matemática e crochet (afinal, tricô é pura engenharia). Ela faz os recifes de crochê.

* O estilista Lucas Nascimento, um brasileiro radicado em Londres, tem um trabalho lindo.

* O  Superziper  que é nosso amigo e companheiro de tricô.

* O blog do  Clube do Útero, um grupo de garotas que bordam juntas e sempre tem idéias lindas.

Gostou do papo? Precisa de uma forcinha com o seu tricô ? A Cris dá aulas na Novelaria e também promove encontros no Tricotarde, um encontro de tricô aberto ao público. O blog dela é o Cris Eloisa.

(imagens: divulgação e acervo pessoal de Cris e Juliano Bonamigo)

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